Agridoce

Nayara Melo
2 min readJun 14, 2022

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Um dia escutei que as coisas importantes da vida, são felizes e tristes ao mesmo tempo. É agridoce.

Faz quase 40 dias que estou no sudeste, estou também na semana do meu aniversário e vi que mercúrio tá em sua rota e deixou de ser retrógrado. E parece que só agora eu estou terminando de me assentar. Todos os dias, eu chego um pouquinho, um dia arrumei as roupas, no outro esperei as caixas chegarem, em outro passamos o dia montando móveis. É feito se eu estivesse me rasgando e costurando ao mesmo tempo, como se estivesse mais velha e jovem. Como se a vida ao me dar um banquete, também olha pra mim esperando devagar como eu vou me lambuzar.

Eu não tenho mais 17 anos me mudando para a primeira cidade fora da casa de meus pais, eu tenho quase 26 (uau, quase 10 anos depois), fazendo a mudança para a casa com quem escolhi dividir a vida, somar jornada e fazer família. E todos os dias, eu saboreio um pouco do banquete, escolhendo o que quero comer, pois a juventude me mostrou que nem tudo tem boa digestão. Eu gosto de comidas agridoces, da mordida da língua e da surpresa do doce, uma combinação boa, como a vida é, com mordidas e surpresas.

Tem dias que são difíceis, que chorei copiosamente, lavando minha alma para receber o novo e me olhar de novo. Mudança tem dessas coisas, mudar a moldura em que estamos inseridos, nos transforma também. E tive (e tenho) que me reconhecer novamente, olhar e descobrir quem sou eu e o que estou disposta. Foram várias mudanças juntas, que me deram um novo desenho de mim.

Enxergar a si mesmo em novas conjunturas, é uma tarefa árdua de exposição de fragilidades e formação de novas fortalezas. Lembrar do que precisa ser lembrado e criar novas memórias, para novos apoios. Como respondi a um amigo, hoje pela manhã, ao me perguntar como estava sendo por aqui, disse: “tá rolando, tá sendo gostoso”. Fazer essa colcha de retalhos, é plural e intenso, mas requer muito zelo com cada pedacinho que vai sendo posto, cuidado para que não se rasgue até finalizar. Tem dias que é só silêncio e costura interna, tem dias que é riso e expansão dos tecidos que forram a mesa para receber…

Esse banquete. Ainda bem, que tem você que segura o meu choro, que faz banho pra mim, que conhece meu olhar triste e também o alegre. Que sabe o dia da mesa pra dois, mas também quando queremos festa. Eu sei que em breve, a ressaca desse mar passa, por agora, pés nas águas e em breve, mergulhos profundos. Por enquanto, preciso sentir.

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Nayara Melo

Sobre mudanças, cidades, e uns textos aleatórios. De quem anda muito, um diário do meu interior