Das minhas plantas

Nayara Melo
2 min readSep 23, 2024

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Desde que moro sozinha, nunca quis plantas ou bichos de estimação, usei sempre a desculpa que viajo muito e não tinha tempo de cuidar, as plantas iriam morrer. Desde a última mudança, isso também mudou, fui comprando uma plantinha ali, outra acolá. Algumas obviamente morreram pelo caminho, acho que foi olhado.

Penso nisso que mudou, eu não deixei de viajar, pelo contrário, continuo viajando muito. Mas arrumei formas de mantê-las vivas enquanto não estou. Fiquei pensando comigo, na verdade o que mudou nesta situação? Cheguei a conclusão, descobri que a chave que tanto me custou de “sempre ir” me impediu de ver que — na verdade — eu sempre volto. Estar longe, não é deixar de estar, é um jeito diferente de estar. Eu sempre volto.

Por vezes, estranho a minha personalidade aqui, acho que sou diferente de mim, me desconheço em tantas outras. Uma mágoa terrível por dias me consome, contudo eu sempre volto. Arrumei jeitos de me organizar, de me encher, de descobrir remédios para as plantas, de ficar feliz a cada folha, de aprender que precisa de tempo. Também que tem vezes que não dá jeito, a solução é aceitar que a planta morreu e tudo bem.

Lembro de um dia que cheguei e fiquei cuidando das plantas, Lucas tocando violão, não falávamos nada, pois não precisava, tudo estava tão bem e quieto. Tudo estava bem. Lembro de outro dia que fiz muda da Comigo-ninguém-pode. Ou do dia que Priscilla Senna quase morreu com o vento, descobri que tenho que guardar elas dos dias de vento, mas no Sol, elas se aguentam bem. Eu sempre volto.

Eu volto para tentar, mesmo cansada, cuidar, porque em algum momento aquilo me dá refrigério. Então, comecei a espalhar plantas pela casa, uma no quarto de hóspedes, hoje outra em meu quarto. Em breve, viajo novamente, comprei bombinhas de água para que não passem sede. Na verdade, eu gosto muito de ir e também ficar fora uns dias para voltar e ver que cresceram sem a minha presença. Já fico ansiosa pensando no retorno e de saber como estarão. Vejo a semelhança da minha vida que se desenvolve nas distâncias, por muitas vezes, meus amigos já veem tudo montado ou pronto, o processo aconteceu longe dos seus olhos. Gosto de ter me permitido às plantas e delas se permitirem a mim, mesmo eu com meu jeito passante, porque no final eu sempre volto.

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Nayara Melo

Sobre mudanças, cidades, e uns textos aleatórios. De quem anda muito, um diário do meu interior