Um ano de rio de janeiro

Nayara Melo
2 min readMay 4, 2023

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Um sábado de duas semanas atrás, estava na casa de um amigo e eu percebi que se eu fosse mudar de cidade, eu sentiria falta daquilo.

Essa semana, faz um ano que me mudei para cá. Mudei meio sem saber o que eu iria fazer, sabia que eu ia dar um jeito, que a vida daria um jeito. Inicialmente pensava em terminar o mestrado, fazer uma residência e trabalhar, quiçá fazer um doutorado. Na realidade, terminei o mestrado com um doutorado engatado, com aprovação em um terceiro emprego. Visto que nesse meio tempo, consegui um trabalho, fui demitida, entrei em outro, com a aprovação no outro trabalho, eu saí do segundo. Três funções diferentes, em três lugares diferentes.

Contando dessa forma, parece que eu corri muito e é verdade. Corri até cansar, investi em pessoas, lugares, em conhecer e aprender formas de andar. Me decepcionei, deixei algumas pessoas, encontrei outras. Chorei, chorei muito. No final, eu corro para olhar pra trás e saber que fiz tudo ao meu alcance, eu olho e gosto do que fiz e do que a vida me deu.

Eu e Lucas caminhamos, nos guardamos, sorrimos, choramos e aprendemos. Rasguei minha pele e aprendi, outras só aceitei e deixei estar. A gente fala muito sobre a beleza das coisas, mas existe algo na tristeza, no sofrimento que nos impulsiona a organizar, tentar, ir. Por vezes, a necessidade, por vezes mesmo sem força de vontade. A adaptação tem dessas coisas, vi em algum filme que quando a gente muda de cidade, o corpo chega primeiro do que a alma e esse é um processo que cabe aqui. Minha alma a cada dia tem chegado, eu organizo a casa para que a minha alma tenha lugar, organizo minhas relações para que minha alma tenha lugar, organizo meus lugares para que minha alma tenha lugar. Nem todos os lugares que nosso corpo está, precisamos ocupar. Nem tudo que aparece, precisamos ficar.

O rio até agora foi — em grande parte — essa conta terapêutica de dizer o que quero fazer, onde quero estar e como ir, para onde ir e também a negativa de todas essas ações. Isso reverbera no meu corpo que mudou, nas roupas que estou precisando comprar e nas outras que coloquei para doação. Roupas que não me vestem mais e a gente se organiza e se reorganiza, é sobre aprender os códigos.

Perdi a conta das tantas visitas que recebi dos meus amigos viajantes, do carinho trazido, por me auxiliarem a ver a gradação das coisas andando. A cada visita, eu percebia que estava mais na cidade, dos estrangeiros que me receberam. Porque no final do dia, em um sábado de tarde minimamente lembro que é uma caminhada, que é mais uma cidade na minha história, que esse processo não é igual, a próxima mudança (se houver) vai me ensinar novas coisas, novos caminhos e novas histórias. Por hoje, lembro daquela música que me acalentou que diz que ninguém sabe o que a vida é, mas “ela é o que sou” e “ninguém sabe/ de onde vim pra onde vou”.

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Nayara Melo

Sobre mudanças, cidades, e uns textos aleatórios. De quem anda muito, um diário do meu interior